quarta-feira, 28 de maio de 2025

Síntese aulas de ética aplicada com turmas do segundo ano do ensino médio da EEAET

Síntese

Ética prática ou aplicada

Bioética - Ética biomédica, ética ambiental, ética animal,

Ética Profissional

Ética Digital

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    No percurso do estudo de diferentes éticas contemporâneas examinamos enquanto estudávamos Ética Profissional e Ética Digital o "Código de Ética e Conduta Profissional da Sociedade Brasileira de Computação" à luz das ideias do filósofo Hans Jonas, desenvolvidos na obra "O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica".

2. RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS 

    Um profissional da Computação deve...

    2.5. Fazer avaliações abrangentes e completas de sistemas computacionais e seus impactos, incluindo análise de possíveis riscos

    (...) Cuidados extraordinários devem ser tomados para identificar e mitigar riscos potenciais em sistemas de aprendizado de máquina. Um sistema para o qual os riscos futuros não podem ser previstos de forma confiável requer reavaliação frequente do risco à medida que o uso do sistema evolui, ou não deve ser implantado. Quaisquer problemas que possam resultar em grandes riscos devem ser relatados às partes apropriadas.

Fonte: Código de Ética e Conduta Profissional da Sociedade Brasileira de Computação

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Princípio Responsabilidade

Deixem ecoar em seus ouvidos a palavra “responsabilidade”.

O filósofo alemão Hans Jonas (1903 - 1993) na obra "O princípio responsabilidade” propõe ao pensamento e ao comportamento uma nova ética.

Por que uma nova ética? Hans Jonas entende que a tecnologia moderna introduziu mudanças tão grandes e imprevisíveis no planeta que as éticas do passado não são capazes de contê-las.

Essa nova ética deve considerar não apenas os humanos, mas também a natureza.

A humanidade deve se responsabilizar pelo seu próprio futuro na Terra, e pela natureza.

Imperativo categórico de Kant (século XVIII): "Age de tal maneira que o princípio de toda ação se transforme numa lei universal"

Jonas formula um "imperativo de responsabilidade" para o século XXI: "Age de tal maneira que não ponhas em perigo a continuidade indefinida da humanidade na Terra".

Perigo: A reconstrução tecnológica/cibernética do homem e do ambiente pode significar a morte da humanidade e natureza como conhecemos. Não necessariamente uma morte terminal física, mas uma "morte essencial".

No presente, pesquisa científica dominada pelo poder gerou uma nova configuração da ciência, que produz um novo saber que não é usado para o benefício de todos, mas apenas para o bem dos próprios detentores de poder e de suas redes.

O imperativo tecnológico vigente elimina a consciência, elimina o sujeito, elimina a liberdade em proveito de um determinismo. Para que pensar se podemos usar o "chat GPT", não é mesmo?  Para que pensar livremente se tudo pode ser programado antecipadamente, não é verdade?


Política

Aristóteles

(ENEM – 2017) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano.​
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Pauto: Nova Cultural, 1991 (adaptado).​
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que​:
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.​
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade.​
c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade.​
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente.​
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum.

terça-feira, 27 de maio de 2025

Descartes (1596 - 1650): "Meditações sobre a Filosofia Primeira (1641) (Trechos)

PRIMEIRA MEDITAÇÃO

Sobre as coisas que podem ser postas em dúvida

/1/ Faz alguns anos já, dei-me conta de que admitira desde a infância muitas coisas falsas por verdadeiras e de quão duvidoso era o que depois sobre elas construí. Era preciso, portanto, que, uma vez na vida, fossem postas abaixo todas as coisas, todas as opiniões em que até então confiara, recomeçando dos primeiros fundamentos, se desejasse estabelecer em algum momento algo firme e permanente nas ciências. Mas, como tal se me afigurasse uma vasta tarefa, esperava alcançar uma idade madura (...). Por isso, adiei por tanto tempo que, de agora em diante, seria culpado, se consumisse o tempo que me resta para agir.


/2/ É, portanto, em boa hora que, hoje, a mente desligada de todas as preocupações, no sossego seguro deste retiro solitário, dedicar-me-ei por fim a derrubar séria, livre e genericamente minhas antigas opiniões.

    (...) se os fundamentos se afundam, desaba por si mesmo tudo o que foi edificado sobre eles, atacarei de imediato os próprios princípios em que se apoiava tudo aquilo em que outrora acreditei.

/3/ Com efeito, tudo o que admiti até agora como o que há de mais verdadeiro, eu os recebi dos sentidos ou pelos sentidos. Ora, notei que os sentidos às vezes enganam e é prudente nunca confiar completamente nos que, seja uma vez, nos enganaram.

(...)

/5/ (...) Em verdade, com que frequência, o sono noturno não me persuadiu dessas coisas usuais, isto é, que estava aqui, vestindo esta roupa de inverno, sentado junto ao fogo, quando estava, porém, deitado entre as cobertas! Agora, no entanto, estou certamente de olhos despertos e vejo este papel, e esta cabeça que movimento não está dormindo, e é de propósito, ciente disso, que estendo e sinto esta mão, coisas que não ocorreriam de modo tão distinto a quem dormisse. Mas, pensando nisto cuidadosamente, como não recordar que fui iludido nos sonos por pensamentos semelhantes, em outras ocasiões! E, quando penso mais atentamente, vejo de modo mais manifesto que a vigília nunca pode ser distinguida do sono por indícios certos, fico estupefato e esse mesmo estupor quase me confirma na opinião de que estou dormindo.


(...) 

Descartes duvidará novamente da certeza dos sentidos pondo em dúvida a forma como o mundo lhe aparece. Será o mundo na realidade diferente do mundo como lhe aparece representado?  
Como temos certeza de que as coisas que apreendemos pelos sentidos não são na realidade diferentes da maneira como as sentimos?


/9/ (...) Mas, de onde sei que (...) eu sinta todas essas coisas, e que, no entanto, todas elas não me pareçam existir diferentemente de como me aparecem agora?


*** O texto de Descartes nos permite pensar na (falsa ...) impressão de que o céu é azul. Na verdade, a luz solar, que é branca, é uma mistura de todas as cores do arco-íris. Ao atravessar a atmosfera, a luz solar é refratada e espalhada pelas partículas de ar, principalmente pelos átomos de oxigênio e nitrogênio.  Daí, o Efeito Rayleigh, ou seja, a luz azul, com comprimento de onda mais curto, é espalhada mais do que a luz vermelha, com comprimento de onda mais longo. Isso faz com que mais luz azul seja dispersa na direção do observador, dando ao céu "a cor azul".  Embora a luz azul seja a que mais se espalha, as outras cores também são espalhadas, mas em menor medida. A luz vermelha, por exemplo, é espalhada menos e tende a ser transmitida em maior quantidade, o que faz com que o céu seja mais azul durante o dia e possa ter tonalidades mais avermelhadas ao amanhecer e ao pôr do sol.


(...)


/12/ Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo, fonte soberana da verdade, mas algum gênio maligno e, ao mesmo tempo, sumamente poderoso e manhoso, que põe toda a sua indústria em que me engane: pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas externas nada mais são do que ludíbrios, ciladas que ele estende à minha credulidade. Pensarei que sou eu mesmo desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, mas tenho a falsa opinião de que possuo tudo isso. Manter-me-ei obstinadamente firme nesta meditação, de maneira que, se não estiver em meu poder conhecer algo verdadeiro, estará em mim pelo menos negar meu assentimento aos erros, às coisas falsas. Eis por que tomarei cuidado para não receber em minha crença nenhuma falsidade, a fim de que esse enganador, por mais poderoso e por mais astuto que ele seja, nada possa me impor.

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Espero que tenham apreciado a leitura do texto de Descartes. Para nos despedirmos vale chamar a atenção para a presença de três conceitos importantes no sistema cartesiano: 1) a "dúvida metódica".   A dúvida tem uma função metódica na filosofia de Descartes. Ao colocar em dúvida a verdade das coisas conhecidas, o filósofo não visa manter esse estado de dúvida.Com a "dúvida metódica", ele questionará conhecimentos e crenças até então aceitos, buscando assim encontrar verdades claras e distintas, que pode afirmar com a liberdade da própria razão. 2) "dúvida hiperbólica":  a dúvida é elevada ao máximo; 3) "moral provisória": Descartes entende que podemos adotar provisoriamente certos conhecimentos e crenças obtidos ao longo da vida até que tenhamos realizado o trabalho de colocá-los em dúvida a fim de, em um segundo momento, reafirmá-los como verdadeiros ou refutá-los.

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Perguntas para concluir: 

    1)   O que Descartes está buscando quando logo após elevar suas dúvidas ao máximo ("dúvida hiperbólica") diz "Manter-me-ei obstinadamente firme nesta meditação, de maneira que, se não estiver em meu poder conhecer algo verdadeiro, estará em mim pelo menos negar meu assentimento aos erros, às coisas falsas".

    2) Qual é a função da dúvida na filosofia de Descartes?  

   3) E, para você, hoje em dia, colocamos as informações que recebemos pelos meios de comunicação e pelas redes sociais em dúvida ou aceitamos tudo como verdades e ainda espalhamos, utilizando o poder dos apps de conversa?


Referência bibliográfica

DESCARTES, 2013. Meditações sobre Filosofia Primeira. Edição em Latim e em  português. Tradução, nota prévia e revisão de Fausto Castilho. Campinas: UNICAMP.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

O que é o belo? O que é feio?

Uma das buscas da filosofia de Platão é identificar um critério universal e objetivo para as coisas. Por exemplo, quando a questão é o belo não basta apontar exemplos de beleza na realidade. Platão busca a "Ideia", o conceito, de beleza em si. A questão portanto, não é identificar coisas belas, mas alcançar a ideia verdadeira do belo e apresentar um conceito universalmente válido de beleza.

(UFPR – 2020) No diálogo Hípias Maior, de Platão, Sócrates declara: “Recentemente, alguém me pôs em grande apuro, numa discussão em que eu rejeitava determinadas coisas como feias e elogiava outras por serem belas, havendo me perguntado em tom sarcástico, o interlocutor: "qual é o critério, Sócrates, para reconheceres o que é belo e o que é feio? Vejamos, poderás dizer-me o que seja o belo?”. ​

Considerando a passagem acima e a obra de que foi extraída, é correto afirmar que, de acordo com Sócrates: ​

a) só é possível dizer o que é o belo depois de se ter identificado determinadas coisas como belas. ​
b) a dificuldade se coloca para os juízos sobre a beleza, mas não para os juízos de verdade, tais como “isto é uma mesa”. ​
c) para identificar algo como belo, é preciso antes conhecer o que é o belo. ​
d) o critério para distinguir entre o belo e o feio varia segundo as pessoas. ​
e) não há distinção entre o belo e as coisas belas

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Questões platônicas

Ética

(ENEM – 2015)  Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus amigos -presumiam que a justiça era algo real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade, e essas regras não passavam de invenções humanas.​ 
(RACHELS, J. Problemas da Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009).​

O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado de​

a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana.​
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais.​
c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas.​
d) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes.​
e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas.
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Teoria do conhecimento

(ENEM – 2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.​

ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).​

O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?​

a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.​
b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.​
c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.​
d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.​
e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.

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Política

(ENEM – 2013) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido.​

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr. 2013.​

A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à filosofia política de Platão, pois há nesta a​

a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na bondade infinita de Deus.​
b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico de forma imparcial.​
c) utilização da oratória política como meio de convencer os oponentes na ágora.​
d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo método indutivo.​
e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo das ideias.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Sócrates

Introdução ao pensamento de Sócrates

1 Dentre os adversários de Sócrates na Grécia Antiga encontramos os:

A (   ) Os existencialistas que defendiam um investigação filosófica que explorasse o problema da existência humana e a experiência vivida do indivíduo que pensa, sente e age.
B (   ) Os sofistas que eram conhecidos pela habilidade de usar o discurso de forma persuasiva, valorizando a forma e a retórica ("eloquência"). O conteúdo verdadeiro, a verdade, portanto, ficava em segundo plano, importando mais o convencimento do ouvinte.
C (   ) Os racionalistas que defendiam que as ideias surgem da pura e simples capacidade racional e impulsionam o intelecto, formando os conhecimentos com base nas leis universais da razão.
D (   ) Os filósofos analíticos que se preocupavam com a clareza conceitual e a precisão dos argumentos.
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(ENEM – 2017) Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir aos pensamentos uma direção incomum. Alguns até fogem porque receiam sua influência poderosa, que os leva a se contradizerem e a se censurarem.  

BRÉHIER,E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.​ (Trecho adaptado)

O texto evidencia uma característica do método Sócrates, que se baseava na​:
a) contemplação da tradição mítica, recorrendo aos deuses do Olimpo;
b) aplicação do método dialético com perguntas e respostas curtas;
c) relativização do saber verdadeiro, pois Sócrates não se preocupava com a verdade.
d) valorização da argumentação retórica, visando persuadir os interlocutores, sem preocupação com a verdade;
e) investigação da natureza (physis) e dos seus fundamentos.

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Ética e Moral

(ENEM – 2020) Há um tempo, belas e boas são todas as ações justas e virtuosas. Os que as conhecem nada podem preferir-lhes. Os que não as conhecem, não somente não podem praticá-las como, se o tentam, só cometem erros. Assim praticam os sábios atos belos e bons, enquanto os que não o são só podem descambar em faltas. E nada se faz justo, belo e bom que não pela virtude. Claro é que na sabedoria se resumem a justiça e todas as mais virtudes.​

XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. Apud CHALITA, G. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ática, 2005.​

​Ao fazer referência ao conteúdo moral da filosofia de Sócrates, o texto indica que a vida virtuosa está associada à​:

a) aceitação do sofrimento como requisito para a felicidade plena.​
b) moderação dos prazeres com vistas à serenidade da alma.​
c) contemplação da physis como fonte do conhecimento dos princípios.
d) satisfação dos desejos com o objetivo de evitar a melancolia.​
e) busca da sabedoria como base para a ação justa, bela e boa.

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