terça-feira, 23 de setembro de 2025

Trabalho, Obra e Ação em Hanna Arendt

"Todas as três atividades e suas condições correspondentes estão intimamente relacionadas com a condição mais geral da existência humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. O trabalho assegura não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida da espécie. A obra e seu produto, o artefato humano, conferem uma medida de permanência e durabilidade à futilidade da vida mortal e ao caráter efêmero do tempo humano. A ação, na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos políticos, cria a condição para a lembrança, ou seja, para a história. O trabalho e a obra, bem como a ação, estão também enraizados na natalidade, na medida em que têm a tarefa de prover e preservar o mundo para o constante influxo de recém-chegados que nascem no mundo como estranhos, além de prevê-los e levá-los em conta. Entretanto, das três atividades, a ação tem a relação mais estreita com a condição humana da natalidade; o novo começo inerente ao nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recém-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto é, de agir. Nesse sentido de iniciativa, a todas as atividades humanas é inerente um elemento de ação e, portanto, de natalidade. Além disso, como a ação é a atividade política por excelência, a natalidade, e não a mortalidade, pode ser a categoria central do pensamento político, em contraposição ao pensamento metafísico. (Arendt, 2010).

  1. Trabalho, obra e ação ligados à vida humana

    • Trabalho: garante a sobrevivência biológica, tanto individual quanto da espécie (alimentação, reprodução, manutenção da vida).

    • Obra: cria permanência no mundo (construções, arte, objetos duráveis) e dá estabilidade diante da fugacidade da vida.

    • Ação: funda e preserva corpos políticos, ou seja, cria história e memória coletiva, ultrapassando a mera sobrevivência.

  2. Natalidade e mortalidade

    • Para a filosofia clássica e metafísica, a mortalidade sempre foi o eixo: o humano seria aquele que pensa e age à sombra da morte.

    • Arendt inverte: o centro da política não é a morte, mas o nascimento (natalidade).

    • Isso porque cada ser humano que nasce traz a possibilidade de um novo começo, uma iniciativa inédita.

  3. Ação como expressão da natalidade

    • Ação é a única atividade que expressa diretamente a natalidade: cada pessoa, ao entrar no mundo, pode iniciar algo novo.

    • É justamente isso que torna a política possível — não a repetição do mesmo, mas a abertura para o inesperado e para o inédito que surge com cada novo ser humano.

👉 Em resumo: Arendt está dizendo que o verdadeiro motor da política não é a finitude (como em muitos filósofos que pensaram o humano a partir da morte), mas a natalidade: a capacidade de começar algo novo, de agir, de fundar. A política, então, é a arte dos começos, não do fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário