Uma das discussões filosóficas que Akira suscita diz respeito ao risco de produções da tecnociência adquirirem autonomia, e passarem a agir por “vontade própria” e a controlar o destino humano e planetario.
Esse perigo se manifesta atraves do jovem estudante Tetsuo que, ao tomar consciência de seus superpoderes — resultado de experimentos laboratoriais conduzidos por um governo autoritário —, passa a agir sem qualquer reflexão sobre as consequências de seus atos. Sua ambição é, a qualquer custo, superar o poder de Akira, outro fruto desastroso da manipulação tecno-científica.
Muito antes de Akira, o filósofo alemão Martin Heidegger já havia alertado para questões dessa natureza, em especial para o risco de o homem deixar de ser sujeito e tornar-se objeto da técnica. É exatamente isso que acontece com Tetsuo — e, antes dele, com Akira.
Sob essa perspectiva, o filme nos convida a refletir sobre o perigo da tecnociência, em mãos autoritárias e inescrupulosas, engendrar uma singularidade que, fora de controle, protagonize a destruição do planeta como o conhecemos e, inevitavelmente, da própria humanidade.
Em Akira, ha o risco iminente de uma catástrofe ainda mais aterrorizante do que a que arrasou Tóquio logo no início da narrativa voltar a acontecer em Neo-Tóquio, desta vez impulsionada pela singularidade tecnológica encarnada em Tetsuo.
Poder
O Coronel, em nome da “ordem e do progresso”, busca capturar Tetsuo para impedir que a tragédia provocada por Akira no passado se repita.
Já o Conselho — de viés autoritário e possivelmente fascista — deseja destruir Neo-Tóquio, que consideram “irrecuperável”. Nesse projeto de destruição purificadora, enxergam em Tetsuo um instrumento útil para realizar sua pulsão suicida.
Diferentemente do Conselho golpista, o Coronel adota uma perspectiva “restauradora” — quase rousseauniana —, voltada à preservação da vida, todavia em moldes militares e positivistas q ao fim e ao cabo acreditam ter a legitmidade para decidir quais vidas valem mais e quais menos.
Por fim, o próprio Tetsuo, em oposição tanto ao Coronel quanto ao Conselho, busca individualmente alcançar um poder ainda maior do que o de Akira.
Conclusão
Técnica, tecnologia, tecnociência e poder são temas centrais que Akira inspira a pensar, de grande relevância filosófica, nao apenas retrospecrivamente, mas também na contemporaneidade, quando se discutem os limites éticos das pesquisas com Inteligência Artificial.
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